Assisti ontem, pela primeira vez, a um filme exibido pela ONG Ecofalante. A organização realiza anualmente “o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado a temas socioambientais”. Inspirado pelas reflexões ensejadas na sessão do filme “Push: Ordem de despejo”, vou tentar iniciar uma série de mini resenhas que possa estimular o público a conhecer as produções veiculadas na Mostra.
Push
Este filme aborda a dinâmica da especulação imobiliária em várias cidades do mundo. A narrativa é apresentada a partir de depoimentos dos locatários de imóveis residenciais, com trechos rodados em países como Chile, Canadá e Alemanha. Também existem depoimentos de sem-tetos que ocupam vazios urbanos e de empreendedores que exploram as expectativas que as pessoas têm sobre o lar.
O fio condutor da trama se localiza na trajetória de uma expert da ONU para as questões habitacionais. São registradas falas suas em audiências internacionais, bem como as entrevistas que realiza para elaboração de relatório técnico – sobre o Direito à Habitação para as populações mais vulneráveis. O conteúdo mais denso no filme diz respeito a alguns conceitos econômicos, que surgem explorados na fala de J. Stiglitz.
O didatismo e a simplicidade com que o economista revela as peripécias dos financistas, na criação dos fundos imobiliários (“security”), contrasta com a aspereza e a insegurança da vida de quem não consegue pagar aluguéis. Explicações sobre bolha econômica, a crise de 2008, o ajuste fiscal neoliberal, descrevem a atividade dos financistas como “mineração”, ou como “fishing of fools”. De outro lado, vemos as pessoas simples, apresentando nos olhares o desespero e a tragédia de ver a vida roubada, bem como as experiências mais singulares, mais afetivas, sendo drenadas pela gentrificação.
Em uma palavra: imperdível!
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